Pedro Tourinho, presidente da Fundacentro
Andre Montanher
Desde março, o médico Pedro Tourinho de Siqueira é o novo presidente da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho (Fundacentro). A Comunicação do Sinait-SP entrevistou o novo gestor da Fundação, braço do Ministério do Trabalho que realiza pesquisa, avaliação de riscos, treinamento e educação, assistência técnica e divulgação de informações sobre segurança e saúde ocupacional.
Especialista em saúde coletiva, Tourinho destaca como tarefa principal recuperar o protagonismo da instituição. O novo presidente é formado em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e se especializou em medicina preventiva e social na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Entre 2013 e 2020, exerceu mandato de vereador em Campinas-SP, presidindo a Comissão de Política Social e Saúde da Câmara Municipal.
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Sinait-SP – Que realidade o senhor encontrou na Fundacentro vinda do governo anterior?
Pedro Tourinho – Encontrei a Fundacentro muito reduzida em sua possibilidade de atuação, posto que passou vários anos sem concurso público.
Sinait-SP – Quais as estratégias de trabalho? Que medidas já foram tomadas e o que está no radar para resolução dos problemas? Ganha destaque o concurso público?
Pedro tourinho – A primeira ação foi justamente preparar com a equipe da Fundacentro um novo pedido de concurso público para 270 vagas. Hoje esse pedido está no Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI). Precisamos recompor o quadro da instituição.
Buscamos construir internamente com a equipe um processo de reencontro com a história da Fundacentro e sua tradição de ser um espaço que recebe agentes da sociedade civil, sindicatos e empresas.
Temos realizado uma série de visitas a diversas unidades da Fundacentro pelo Brasil. Já realizamos várias atividades coletivas, incentivamos a pesquisa e voltamos a investir em eventos presenciais, sem deixar de lado as transmissões on-line. Queremos uma instituição pulsante não só em nossa sede, em São Paulo-SP, mas em todos os locais que temos um escritório. Temos fortalecido e apoiado o trabalho da Comissão Interna de Saúde do Servidor Público (Cissp).
Sinait-SP – Como pensa o relacionamento com os demais setores do Ministério do Trabalho?
Pedro Tourinho – Nós somos a instituição de ciência e tecnologia desse Ministério e temos uma relação contínua de diálogo com o ministro Luiz Marinho, com o secretário-executivo Francisco Macena e com os demais secretários da pasta. Isso tem sido muito importante para que tenhamos o reconhecimento de que a Fundacentro é valorizada e de que a agenda da saúde e segurança no trabalho é prioridade para a administração atual. Além disso, temos dialogado muito com a Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), que cumpre um papel complementar e parceiro da Fundacentro em diversas situações relacionadas ao trabalho.
Sinait-SP – No governo passado, havia uma série de iniciativas para alterar as NRs no sentido da desregulamentação do trabalho. Como pensa isso?
Pedro Tourinho – As Normas Regulamentadoras têm um papel fundamental para a normatização da proteção, segurança, prevenção e saúde nos ambientes de trabalho. A Fundacentro participa da Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP), que é quem faz essas discussões de forma tripartite e está ativamente contribuindo para que vários desses processos possam ser revisados. Precisamos repensar as soluções para uma série de problemas que persistem na regulamentação proposta pelas NRs.
Sinait-SP – Como a Fundação encara as sequelas da Covid-19 relativas a milhões de trabalhadores brasileiros, mas com dimensões não totalmente conhecidas?
Pedro Tourinho – Compreender, identificar e sistematizar os impactos da Covid-19, especialmente da Covid Longa, que ainda afeta milhões de trabalhadores, e fortalecer a compreensão de que a Covid foi em diversos contextos uma doença ocupacional são parte do que nós compreendemos como tarefa da Fundacentro. Nós temos pesquisadores aqui que se debruçam sobre essa temática, que é muito complexa e de ampla repercussão.
Sinait-SP – A questão psicológica é hoje a maior fonte de preocupação quando o assunto é saúde do trabalhador?
Pedro Tourinho – Não sei dizer se a maior, já que o adoecimento relacionado ao trabalho se expressa nas mais diversas formas no corpo e no psiquismo dos trabalhadores, mas é uma imensa fonte de preocupação e com crescimento muito expressivo. A questão da saúde mental e o adoecimento relacionado ao trabalho é um dos objetos que têm sido pesquisados, e que nós queremos fortalecer ainda mais na agenda de pesquisa da Fundacentro, por ser um componente cada vez mais presente nos diagnósticos de adoecimento relacionado ao trabalho.