O programa Profissão Repórter desta terça (2) atualizou a situação de uma família de bolivianos resgatada do trabalho análogo à escravidão no ano de 2020, em uma oficina de costura da cidade de São Paulo-SP. Durante três anos, a repórter acompanhou as dificuldades deles – um casal com quatro filhos – para conseguir sobreviver na cidade: a busca por moradia e emprego, além da batalha para receber a indenização a que eles têm direito.
A reportagem foi dividida com a abordagem de um grupo de trabalhadores resgatados de lavoura de cana no estado de Goiás.
A fiscalização em São Paulo foi feita pela Auditora-Fiscal do Trabalho Lívia Ferreira e pelos Auditores-Fiscais do Trabalho Luís Alexandre, Sérgio Carvalho e Renato Bignami. Em Goiás, a operação foi coordenada pelo Auditor-Fiscal do Trabalho Roberto Mendes.
O programa completo é para assinantes GloboPlay, mas você confere trechos AQUI.
O CASO
Em setembro de 2020, o Profissão Repórter saiu às ruas de São Paulo para gravar o que parecia assustador: uma fiscalização de combate ao trabalho escravo no meio de uma pandemia. A denúncia era que uma família de bolivianos estava trabalhando em situação precária em uma pequena oficina de costura.
Na casa com três andares, vivia Gabriela, que estava grávida de sete meses, o marido e os três filhos. Aos auditores, ela contou que começava a trabalhar às 7h e parava só às 23h.
Três semanas depois da operação, a repórter Sara Pavani voltou a encontrar com o casal e conseguiu conversar mais intimamente. Questionados sobre a vida que levavam na oficina, eles revelaram uma rotina de exploração.
“Não fui aos meus exames pré-natal. Eu disse a eles que queria ir ao médico e eles sempre pediam que, se demorasse uma, duas ou quatro horas, quantas horas fossem, eu teria que repor à noite”, disse Gabriela.
“‘Se ela não trabalhar, nós não vamos dar comida’. Eu, como trabalhava sozinho, só me diziam: aí está seu prato. Era só um prato de comida. Quando chegava no meu quarto, dava para as minhas filhas. Eu ficava sem comer e minha esposa também, mesmo grávida”, emocionou-se Bryan.
Depois do resgate, no entanto, a situação da família não melhorou muito. Eles foram colocados em um abrigo municipal com pessoas em situação de rua e dependentes químicos, e tinham que ficar em quartos separados. Na época, eles contaram que, no de Bryan, tinham 22 pessoas. No dela, 36, entre mães e filhos. E sem distanciamento em plena pandemia.
Ainda sem resposta da empresa sobre o pagamento dos direitos trabalhistas, nos meses seguintes, a família começou um processo de várias mudanças de abrigo e Gabriela chorou ao falar da situação:
“Eu quero ir para uma casa, estar com meus filhos. Eu não gosto de viver assim”.