Por: Solange Nunes/Edição: Andrea Bochi
Em 2024, no dia 20 de novembro, foi comemorado pela primeira vez o feriado nacional do “Dia da Consciência Negra”. Data também que marca o “Dia de Zumbi dos Palmares”. O feriado é uma celebração de resistência ao trabalho escravo e em prol da dignidade da pessoa humana. A 2ª Caminhada contra a escravidão reuniu Auditores Fiscais do Trabalho que participavam do 40º ENAFIT, autoridades e a sociedade civil, na Praia de Pajuçara, em Maceió (AL). O líder do Quilombo Palmares, Zumbi dos Palmares, é uma referência de resistência e luta contra a escravidão do negro no país. Evento de protesto e denúncia que marcou o 40º Encontro Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho.
De acordo com o presidente do SINAIT, Bob Machado, a resistência contra a escravidão é uma luta de todos. “O fim do trabalho escravo e da discriminação devem ser perseguidos por nós, enquanto sociedade, porque é a partir dessa luta que acabaremos com a chaga do trabalho escravo e teremos respeito e empatia entre os seres humanos”.
No ENAFIT, ponderou ainda o presidente, “refletimos sobre a realidade do nosso passado e tentamos projetar um futuro para nos colocarmos e adaptarmos, seja qual for o futuro que está sendo construído, sempre pensando na Inspeção do Trabalho e, consequentemente, o Auditor Fiscal do Trabalho como protagonistas desse futuro”.
Bob Machado lembrou ainda dos três Auditores Fiscais do Trabalho Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e do motorista Ailton Pereira de Oliveira mortos, em 2004, no episódio conhecido como Chacina de Unaí. “Eles foram assassinados porque não cederam às ameaças. Essa tem sido a espinha dorsal da Inspeção do Trabalho no Brasil, que é o de proteger os trabalhadores, apesar das adversidades impostas. Em razão disso, temos a obrigação de defender seus legados, todos unidos na luta”.
Carlos Silva, vice-presidente do SINAIT, disse que todos têm o sangue dos escravizados nas veias, o que torna a luta pelo combate ao trabalho escravo muito mais acirrada. “Somos todos iguais, mas, para muitos faltam as oportunidades. E temos a missão de combater o trabalho escravo, como autoridades brasileiras legalmente constituídas com a tarefa de acabar com essa chaga que perdura por Séculos no Mundo”.
Declarou ainda o vice-presidente que a 2ª caminhada contra a escravidão é um marco neste ENAFIT em Maceió. “Não abriremos mão dessa missão, que significa lembrar às pessoas, durante os resgates, que elas são pessoas. É o resgate do ser humano, de sua dignidade e também de sua cidadania”.
José Fontoura, diretor do SINAIT, declarou confiança no Sindicato Nacional. “Confiem no SINAIT porque a entidade jamais os decepcionará”.
Rosa Jorge, diretora do SINAIT, enfatizou que a luta do SINAIT também é contra a exploração do trabalhador. “É vergonhoso ter trabalho escravo no Brasil. É inaceitável o trabalho escravo e, por isso, os Auditores Fiscais dizem ‘Não, ao trabalho escravo!’”.
Rosângela Rassy, diretora do SINAIT, destacou o trabalho dos Auditores do Rio Grande do Norte no combate ao trabalho infantil, que em 2024 conseguiram reverter números significativos do trabalho infantil. “Isso sem dúvida nenhuma nos alavanca e impulsiona enquanto Auditores Fiscais do Trabalho. Não podemos esmorecer nunca. Mostrar para a sociedade que existe uma carreira e uma Inspeção do Trabalho organizada em muitos países que tem essa função meritória de resgatar a dignidade do trabalhador na área rural e na área urbana”.
Sebastião Estevam dos Santos, diretor do Sindicato Nacional, exemplificou que a luta precisa vencer a pobreza e o preconceito. “Em uma ação fui confundido com um resgatado porque tenho a pele preta. Aqui na Terra de Zumbi dos Palmares a 2ª Caminhada mostra-se revigorante porque demonstra a luta do SINAIT e da categoria pelo fim do trabalho escravo, da pobreza e do preconceito no Brasil”.
Roberto Miguel, que integra o Conselho Fiscal Local da Bahia, e já resgatou dezenas de trabalhadores escravizados no país, registrou e protestou sobre o caso da doméstica Sônia Maria de Jesus negra, analfabeta e surda. “Ela foi escravizada por mais de quatro décadas na casa de um desembargador. Depois de resgatada, o caso foi revertido e ela voltou para a casa do desembargador e o Auditor Fiscal do Trabalho responsável pelo resgate está sendo perseguido. Isso é um escânda-lo que precisamos denunciar”.
A Auditora Fiscal do Trabalho Neide Araújo, 82 anos, considera o encontro maravilhoso e imperdível. Enfatizou que das 40 edições, participou de 35 encontros realizados. “Adoro o ENAFIT e não deixo de participar. Gosto de encontrar os amigos e acompanhar a evolução da carreira. Neste dia tão importante, peço apenas a união de todos para um SINAIT melhor e mais forte na luta pela categoria e contra o trabalho escravo”.
No encerramento da caminhada, o presidente Bob Machado agradeceu a participação dos enafitianos, autoridades e da sociedade neste dia de protesto e reiterou o empenho do SINAIT em defesa dos Auditores Fiscais do Trabalho, dos trabalhadores brasileiros e em prol do Brasil e por mais dignidade e respeito humano para todos.