quarta-feira, 11 dezembro, 2024
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NOTA DE REPÚDIO

O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (SINAIT) manifesta seu repúdio aos ataques sofridos pela exposição “Oficina do Suor”, de autoria do Auditor-Fiscal do Trabalho e fotógrafo Sérgio Carvalho, ocorridos nesta quinta-feira, 5 de dezembro. A mostra, que estava em exibição na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, foi vandalizada por um grupo de manifestantes, que lançaram tinta vermelha sobre as fotografias, danificando-as.

A exposição tem como objetivo denunciar uma realidade alarmante e inaceitável: o trabalho análogo à escravidão no Brasil, que atinge, de forma crescente, imigrantes em situação de vulnerabilidade. No período de 2010 a 2023, foram resgatados 902 trabalhadores e trabalhadoras imigrantes de diversas nacionalidades do trabalho escravo em nosso país. O setor têxtil concentra a maior parte desses casos, com 52% dos resgates ocorrendo em oficinas de costura. Não se trata de diminuir a imagem ou a cultura de um povo ou nação, mas de expor uma realidade que precisa ser enfrentada, por mais desconfortável que seja.

É importante destacar que a imigração realizada de forma irregular possibilita todos os tipos de abusos de vulnerabilidades cometidos, como o aliciamento, o abuso sexual e psicológico, o tráfico de pessoas para fins de submissão de trabalhador ao trabalho escravo, entre outros.

As imagens denunciam situações precárias e degradantes de trabalho que traduzem minimamente a situação de profunda violência pela qual passam essas pessoas. São situações em que os trabalhadores residem no mesmo local em que trabalham, isto é, a moradia confunde-se com o local de trabalho, em ambientes hostis a que são submetidos, de absoluto abuso de vulnerabilidades e de  submissão psicológica por medo, além de dívidas impagáveis que são obrigados a contrair ao terem que custear a viagem do local de origem até São Paulo para enfrentar jornadas exaustivas de até 16h diárias de trabalho. Nessas situações, não raramente os trabalhadores são impedidos de se alimentar ou consomem alimentos estragados e ainda têm que pagar por tudo o que consomem com preços abusivos. Como a remuneração é feita por peça produzida, cujo  seu valor mensal jamais alcança o piso salarial. É comum o flagrante de oficinas sem quartos separados para homens e mulheres, banheiros e cozinhas coletivas em péssimas condições de higiene e uso, infiltrações nos cômodos e instalações elétricas que oferecem riscos iminentes de incêndio, como os que já ocorreram na capital, levando à morte trabalhadores imigrantes. As situações constatadas nas oficinas do suor são dramáticas e jamais deveriam ser negligenciadas por quem quer que fosse.

Cabe destacar que as fotografias foram feitas com o extremo cuidado de proteger a imagem das vítimas e que não é possível identificar os trabalhadores e trabalhadoras que nelas figuram nas imagens. Portanto, não há a menor possibilidade de se conectar a imagem da fotografia a uma nacionalidade específica ou a qualquer pessoa específica.

Ressaltamos ainda que a exposição foi patrocinada pela Delegacia Sindical do SINAIT em São Paulo e que o autor não recebeu qualquer tipo de pagamento. É, portanto, inverídica a acusação, registrada nas redes sociais, de que haveria interesse comercial por trás do trabalho. Outra inverdade refere-se à informação de que as fotografias integram laudos ou qualquer outro documento oficial de fiscalização. São obras artísticas, com o único objetivo de chamar a atenção para a grave ocorrência na indústria da moda.

Por fim, o SINAIT reitera seu profundo respeito aos trabalhadores e trabalhadoras de todas as nacionalidades, e reafirma seu compromisso inegociável com o combate ao trabalho escravo contemporâneo. Nós, Auditores-Fiscais do Trabalho, seguiremos firmes na luta pela dignidade do trabalhador, pela justiça social e pela erradicação de toda forma de exploração.

Em relação à parceria com a Casa de Criadores e à utilização do espaço público para difundir informação e arte, devemos ressaltar que a decisão unilateral de desmontar a exposição acaba, ainda que de forma indireta, por demonstrar uma validação dos atos de vandalismo ocorridos e por eclipsar o real sentido da exposição que é chamar a atenção para a ocorrência de trabalho escravo na indústria da moda em algumas das milhares de oficinas do suor que se multiplicam em São Paulo.

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